ADRIANA FORK
Desenvolvimento Humano e Organizacional
Psicóloga, Psicoterapeuta e Coach
Especialista em TDAH
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Transcrição da matéria publicada no Caderno Donna do Jornal Zero Hora de Porto Alegre
Porto Alegre, 10 de Julho de 2018
Por Camila Maccari, Jornalista
"Você está no trabalho dando conta de uma demanda importante, e sua cabeça está ali mas também está longe: será que vão lembrar de pegar seu filho na escola? Você se esqueceu de checar o que tem na geladeira, talvez tenha que passar no supermercado no caminho de casa. Será que seu marido se lembrou de passar na lavanderia e pegar o terno que ele vai ter de usar no final de semana? Por falar em terno, está na hora de encomendar um novo uniforme para o filho caçula.
Você já teve a impressão de que é a única a se preocupar com todos os detalhes para fazer a rotina em família funcionar? Ou se sentiu cobrada a dar conta de tudo? Essa (auto)cobrança, somada às outras exigências da vida e da carreira, faz com que sua mente seja incapaz de desconectar. A dificuldade de não pensar em coisas que estão para acontecer se chama carga mental. E, apesar de ser um sentimento comum a todos, acaba aparecendo com mais frequência em mulheres.
– Temos uma cultura machista que acredita que a mulher é multitarefa, que é natural dar conta de profissão, tarefas domésticas, cuidado com os filhos, apoio para a família. E isso não é mais pesado apenas para as mulheres que trabalham fora de casa, o fardo de ser responsável por gerenciar todos os aspectos da vida familiar exige muito de todas que têm que dar conta disso sozinhas. Homens e mulheres crescem achando que cuidar de tudo é papel delas, e isso perpetua essa conjuntura familiar em que a mulher é a responsável e o
homem ajuda com as tarefas – explica a psicóloga Antonieta Lopes Bridi.
O resultado são mulheres permanentemente cansadas. Mesmo sem esforço físico, ter que pensar em tudo o tempo todo também é exaustivo.
– Em todas as situações, gerenciamento é uma sobrecarga enorme, se exige muito de um gestor. É ele que precisa estar a par de tudo o que acontece, de tudo o que é necessário para suprir as necessidades, é sua toda a responsabilidade – explica a psicóloga Adriana Fork Perez.
Afinal, seu companheiro pode estar disponível o tempo inteiro para realizar as tarefas que você pede: lava a louça, vai ao mercado, leva ou busca o filho da escola. Mas, se você não pedir, ele não vai perceber que precisa fazer isso, já que você é a responsável por elas. Quantas vezes você não reclamou e ouviu um: “Mas você não me pediu!”? Antonieta lembra que isso pode, inclusive, trazer prejuízos para a sua carreira.
– Enquanto seu companheiro chega no trabalho e consegue se preocupar apenas com o que acontece por lá, você tem mil outras preocupações em mente. Isso faz com que acabe rendendo menos e tendo ainda menos chances de competir com os colegas homens – afirma.
Sem falar na culpa: para Adriana, a ideia de que somos multitarefa faz com que realmente acreditemos que devemos dar conta de tudo com um nível de exigência altíssimo. E, nesse processo,você percebe que não é a Mulher-Maravilha e acaba sentindo culpa por não fazer mil coisas ao mesmo tempo e perfeitamente. Mas não é porque uma situação está de um jeito que ela precisa permanecer. Reorganizar a rotina familiar e dividir as responsabilidades dentro de casa pode ajudá-la a aliviar esse peso mental e focar mais em outras atividades – com a própria carreira ou um tempo de qualidade com os que você ama.
Três mudanças de comportamento que podem deixar seus dias e sua vida mais leve:
Lembre-se: comunicação é fundamental
Você até pode estar cansada de ter que pedir o tempo inteiro e, mesmo assim, não ver um resultado muito efetivo. Aqui vale mudar a maneira com que você expõe essas necessidades ao seu parceiro – e, conforme lembra Adriana Fork Perez, ser capaz de conversar honestamente sobre um problema é fundamental em um relacionamento.
– Conversar pode ser difícil, as pessoas estão acostumadas a criticar o outro e não falar do que as incomoda.
É necessário ser assertiva, dizer o que você está sentindo, o que você precisa, e tentar pensar junto uma solução que vocês dois possam resolver. Tenta usar menos o “eu” e mais o “nós” na hora de procurar a solução – explica.
Ainda de acordo com Adriana, a comunicação assertiva faz com que o outro mude a forma como ele entende e lida com o que você está dizendo. Assim, fica mais fácil que seu parceiro se dê conta de que a maior participação dele não é um favor, mas sim uma parte importante em um trabalho que deveria ser em equipe.
Abra mão do controle
Antonieta lembra que você não vai acordar na manhã seguinte à divisão de responsabilidades se sentindo automaticamente livre – até porque o piloto automático da maioria das mulheres é aquele em que ela é responsável por tudo.
A dica é, aos poucos, você abrir mão do controle e aprenda a desligar:
– Depois de estabelecer essa parceria, tente, de fato, exercitá-la. É muito comum, porque a maioria das mulheres são criadas acreditando que as coisas só serão bem feitas quando feitas por elas. É preciso estar consciente de que cada pessoa tem um jeito de agir diferente e também aprender a controlar a expectativa de que o outro faça do jeito que você faria – diz Antonieta Lopes Bridi.
Distribua melhor as tarefas
Saber tudo o que a casa precisa para funcionar contribui para a harmonia do núcleo familiar. A dica aqui é sentar com papel e caneta e listar cada uma das demandas e o que é preciso para dar conta delas. Tudo mesmo, desde filho até louça limpa, passando por supermercado.
– Depois, vocês, em conjunto, podem distribuir as responsabilidades para cada uma dessas necessidades. Vale sempre respeitar o que cada um gosta mais de fazer ou tem mais habilidade. Só saiam desse momento quando tiverem definido o que está na alçada de cada um – ensina.
E, claro, vocês que definem como essa dinâmica vai funcionar: as responsabilidades podem ser fixas ou alternadas, um pode lidar com mais funções do que o outro. O que importa é estarem atentos ao fato de que responsabilidades são diferentes de tarefas e, dentro das suas responsabilidades, cada um pode delegar como quiser e precisar. O importante é cuidar para que o assunto se resolva."
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